

Em março de 2020, o mundo mergulharia num lugar de onde ainda não saiu. Não até agora. Não totalmente. Mas aqueles primeiros meses foram diferentes: "foi acidente, foi caso pensado, foi coisa de Deus, foi coisa de morcego, só mata velho e no frio...". Então, depois que a cachaça, o carboidrato ou a catarse se tornaram insuficientes, o medo e o isolamento cobraram seu preço e cada um pagou do seu jeito. Este livro é meu recibo. Aqui presto conta de tudo que não dei conta, cada lágrima, mas também cada sorriso. Houve muitos deles: vizinhos fazendo música, gente aprendendo a cozinhar, a conversar, a se ouvir, a se olhar. E nestas preciosas e infinitas horas de dias tão iguais, percebi que, em tempos de mascarar nosso rosto, pudemos desmascarar nosso coração. Eis aqui o que vi por trás de meus olhos.

Urgentes caramujos nasceu por necessidade e gratidão. Gratidão, pela poesia ser a casa onde me refugiei quando a pandemia desabou sobre nós, nossos planos e nosso futuro (ou a falta dele). Necessidade, por entender que, se a vacina nos defende da doença, a poesia nos salva da loucura. Estes versos são a prova disso. Num mundo com cada vez mais esporos e esporas, a poesia ainda nos acolhe com liberdade, talvez porque seja do mundo o verso.